Todos nós temos direito à felicidade, certo?.
Pelo menos, é assim que se pensa, hoje em dia. Parece que o mundo todo busca "se dar" esse direito, e corre atrás dele. O menino na loja de brinquedos; seu pai na agência de automóveis, sua mãe na joalheria, o casal gay, diante do altar, todos parecem concordar que têm direito à felicidade - a seu modo.
Não sei se está correta essa busca, esse modo de pensar, por três motivos. Primeiro, porque não sei muito bem o que é essa felicidade que buscamos; segundo, porque não consigo descobrir de onde vem e quem nos deu esse "direito", e terceiro, porque tanto do ponto de vista antropológico quanto psicológico, ou mesmo teológico, não sei se nascemos para ser felizes.
Quanto ao primeiro motivo, me parece que a felicidade, diferentemente da alegria, é um estado de alma. Posso estar alegre e ser infeliz ou estar triste e ser feliz.
Pensadores modernos têm associado felicidade a saciedade. A infelicidade estaria ligada, então, a desejos não saciados. E como não podemos deixar de desejar, e também nunca seremos plenamente saciados, precisamos encontrar uma saída para o problema.
Encontramos nas Escrituras essa proposta de saciedade plena, quando a profecia nos fala, metaforicamente, que Deus nos enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 7,17). Mas vemos tratar-se de uma promessa para o porvir. Os bem-aventurados também têm sua promessa - para depois do sofrimento. Mas a felicidade que queremos é para já. Posso ser feliz aqui e agora? E descobrimos que a felicidade, na forma de saciedade total, é impossível. Nem para o rico, nem para o santo.
Que nos sugerem os sábios? Que aprendamos a lidar com nossos desejos. Por exemplo, que aprendamos a não desejar o impossível; e, também, que a absoluta ausência de desejos nos faria não querer sair da cama pela manhã. Que coisa difícil!
O direito à felicidade me parece problemático, em segundo lugar, porque não sei de quem cobrá-lo. Mesmo que muitos o vejam como um subproduto do Código de Defesa do Consumidor, instituído por lei. De fato, não sei a quem acionar na justiça em caso de comprovada infelicidade pessoal, uma vez que não pedi para nascer. Serão os meus pais? Será Deus? Neste último caso, a que tribunal o levarei? E com que base "legal"?
E isso nos leva ao terceiro problema. Que a felicidade é o anseio de toda alma, não há dúvida. Mas onde está o direito? Existe em nosso "manual de operação" algum dispositivo que garanta que nascemos para a felicidade? Ao compulsar as Escrituras, descubro que ela fala pouco do assunto. Fala muito de alegria, mas não de felicidade. Um silêncio revelador. Mesmo os "felizes", controversa tradução para bem-aventurados, só serão saciados no porvir. Sua felicidade está fundada na esperança, na promessa. Mas se é promessa, não é para já.
Sim, agora dou-me conta de que Cristo não veio trazer felicidade. Pelo menos não essa felicidade a que todos pensam ter direito, sob pena de ação judicial. O que nos legou, como resultado da reconciliação com Deus foi sua paz. Uma paz que o mundo não pode dar - e também não pode tirar. Consistentemente, Paulo nos diz que o resultado da justificação, mediante a fé, é paz (Rm 5,1). A proposta de felicidade para nós se realiza na paz com Deus, que se desdobra em derrubadas de paredes interiores e de muros de separação e inimizades: reconciliação. Sim, Deus estava, em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo (2Co 2,19). Ao recebê-lo, sou reconciliado com os propósitos divinos para minha identidade, meu significado de vida. Reconciliado em minhas relações com a natureza, com meus irmãos, comigo mesmo e com Deus, passo a experimentar uma "paz que excede todo entendimento" (Fp 4,7).
Paz. Esta é a proposta de felicidade que Deus apresenta ao mundo. Paz por meio de Cristo.
Fonte: www.amorese.com.br
Que Papai abençoe a todos
Missionário Adilson