sábado, 11 de julho de 2009

Crendo em um Deus onipresente

O teólogo Ed René Kivitz escreve que espiritualidade é a plena consciência da presença de Deus. Acho simples, direto e bem verdadeiro. Os momentos em que me percebo imerso em uma certeza real de que Deus existe, caminha ao meu lado e entende todas as minhas dúvidas e fraquezas são momentos onde consigo definir minha espiritualidade em algo quase concreto, palpável, apesar de não ser fácil expressar em palavras ou racionalmente. As nossas atitudes são um reflexo do quanto reconhecemos que Jesus está ali, naquele momento e lugar, conosco, bem do nosso lado.
Isso me veio na cabeça quando eu passei os olhos no evangelho de Mateus, capítulo 26. O tempo de Jesus na terra estava terminando, e ele, reunido com seus discípulos, afirma que todos eles o abandonariam naquela mesma noite, conforme as profecias. Pedro, sempre rápido no falar, declarou: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca te abandonarei” (Mt 26.33); Jesus reafirmou dizendo que naquela mesma noite, antes que o galo cantasse, Pedro o negaria por, não uma, mas três vezes. Tanto Pedro quanto os outros disseram diante do Mestre que nunca negariam, mesmo sofrendo a morte.
Virando a página, no final do capítulo, lá estava o desfecho da história. Jesus já havia sido preso e levado para o julgamento, e Pedro sondava os arredores do local onde estavam com Jesus. Vieram três pessoas diferentes acusando ele de ser um dos que andavam com o tal Jesus, e ele, imagino que muito assustado, negou, jurou, amaldiçoou, falou de todo jeito que não conhecia o tal homem. Logo após a terceira vez, um galo cantou, e vieram as palavras claras de Jesus em sua mente, e o arrependimento de ter abandonado seu mestre amado.
Eu poderia rapidamente condenar a covardia de Pedro e pensar que eu no lugar dele não teria dado uma mancada dessas. Mas logo ali olho pra minha vida, e vejo que não faço nem um pouco diferente. Às vezes faço até pior. A grande questão da onipresença de Deus nisso tudo é que quando estou orando, meditando na Bíblia, em um momento de culto, ou ainda reunido com toda a galera pulando e cantando sobre Deus e seu infinito amor, a minha frequência está sintonizada na frequência de Deus, a harmonia é tanta que me sinto “o” cara. Fica fácil, e pelo menos pra mim não soa hipócrita, cantar letras que transparecem uma fé e uma entrega tão intensas. Tudo isso porque naquele momento tenho plena certeza: “Deus está aqui”.
Agora a coisa muda geral quando minha memória falha, quando eu não estou mais falando com Jesus face a face, mas estou acuado, cercado de incrédulos acusadores, me julgando e apontando os dedos. Ali, me sinto sozinho em minha fé e apesar de eu saber pela Bíblia que Deus está comigo todo o tempo, minha consciência enfraquece e duvida. E aí eu vejo que não sou diferente do Pedrão lá, rápido pra prometer, e vacilante na hora de lutar. Preciso aprender a reconhecer Deus nas pequenas coisas, nos momentos mais singelos, agradecê-lo por cada novo respirar, por cada amanhecer e, principalmente, por cada oportunidade de recomeçar.

“E eu (Jesus) estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos" Mt 28.20b
Juliano Coimbra

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